Quem eu sou?
Meu nome é Juliana. Nasci em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro e, desde pequena, moro em Brasília. Sou filha da Beth e tenho dois pais, um biológico e um pai que me escolheu e me criou. Meu sobrenome, Caribé, veio dele. Tenho, por parte de pai biológico, uma irmã e três irmãos. E, por parte de mãe e pai de criação, dois irmãos, Pedro e Ana, com quem cresci.
Em 2014, perdi meu pai, Caribé. Um mês depois, descobri que estava grávida. Sou mãe. Minha filha, Maria Flor, nasceu em fevereiro de 2015, num parto domiciliar assistido por uma parteira. Me separei do pai dela 1 ano e dois meses depois. Vivi uma depressão pós-parto longa, identificada já tardiamente. Me perdi de mim mesma muitas vezes, e me reencontrei comigo tantas outras. Sigo num caminho de me olhar e me reconhecer, de ressignificar vivências e feridas, e de encontrar novas maneiras de habitar o mundo sendo mais generosa comigo e com quem me rodeia.



Fiz Letras português e fui professora de português por muitos anos. Depois, comecei a trabalhar como revisora de textos, e faço isso até hoje. Quando tinha 19 anos, tirei a primeira foto da minha vida, uma abelha pousada em uma flor. Aos poucos, a fotografia foi entrando na minha vida e ocupando espaços cada vez mais significativos. Comecei a, paralelamente ao trabalho de revisão, fotografar casamentos e festas infantis. Tive a honra, inclusive, de fotografar o segundo casamento do meu pai. Cursei alguns anos do curso de Cinema e Mídias Digitais e também do curso superior de fotografia.

A fotografia na minha vida
Quando meu pai fez a passagem, foi o primeiro momento em que entendi realmente o valor da fotografia pra mim. Ela é o que fica de tudo o que passou. Um recorte da realidade, uma poesia estática, mas que tem tanto movimento, paradoxalmente. Um pedaço de lembrança, com a capacidade de nos transportar: de nos fazer reviver momentos e sentimentos mais uma vez. E, a cada vez, de uma maneira diferente, porque também nós mudamos o tempo todo. Quando meu pai se foi, restaram as fotos dele. Com o tempo, nossa memória vai esquecendo dos detalhes e as fotos nos permitem lembrar.
O segundo momento em que entendi o poder da fotografia foi no nascimento da minha filha. Acompanhar e registrar o crescimento dela em fotos é um presente que deixo a ela, pra que ela conheça a própria história, pra que se veja, se reconheça, mesmo quando for adulta. A maternidade foi e é a experiência mais transformadora da minha vida. E viver a morte (do meu pai) e a vida (dentro de mim) tão perto uma da outra foi dolorido, mas muito profundo e bonito. Eu mergulhei na maternidade. Mas desviei o olhar de mim. Acho que todas nós, mães, passamos por isso muitas vezes ao longo das nossas travessias. Esse ir e vir, esse morrer e renascer de fênix, esse desencontrar e encontrar. A maternidade é o mergulho mais profundo, mais intenso e mais cheio de beleza que eu irei experimentar nessa vida, tenho certeza. Nessa busca por mim mesma, encontrei na fotografia uma ferramenta poderosa de sair de mim pra ver, de me olhar e me enxergar. Comecei a me autorretratar, pra entender aquele novo corpo, e entendi muito além: entendi processos internos, coloquei no mundo muitas dores, me esvaziei delas pra me preencher de novas possibilidades. Ao mesmo tempo em que me acessava por meio da fotografia, comecei a entender que havia em mim um chamado para trabalhar com mulheres, fotografá-las, vê-las, reconhecer-me nelas.


Em 2018, invadiram minha casa e todos os meus equipamentos foram levados. Foi um grande choque porque, junto com os equipamentos, levaram também meus HDs externos, onde estavam todas as fotos que eu havia feito desde o início da minha fotografia – incluindo as minhas fotografias de família, do meu pai, da minha filha. Foi uma perda difícil de lidar, eu sofri e pensei em desistir. Mas entendi como um recado da vida pra que eu desapegasse do passado, da dor da perda (a do meu pai), da dor e da culpa pela depressão pós-parto e olhasse pro que estava à frente de mim. Meu pai sempre dizia que precisamos tomar nas nossas mãos as rédeas das nossas vidas. Era hora de fazer isso. Então encarei esse momento como um renascimento. Mais um, entre tantos.
Tenho nascido para este novo lugar na vida. Tenho buscado, cada vez mais, ferramentas de olhar pra mim, pra minha criança interior, de ressignificar o que de difícil eu vivi até aqui. Cada vez mais tenho buscado formas de cuidar da minha filha, de criá-la dentro de uma relação emocionalmente honesta, de escuta e respeito mútuos, em que ela tenha voz e em que aprenda, desde criança, o valor imenso que ela tem – e curando, assim, a mim, a ela e a todas as mulheres que vierem depois dela também. Na fotografia, essa nova forma de existir tem se manifestado fotografando a mim mesma, num processo intenso de colocar na arte tudo o que me habita. E também outras mulheres, outras famílias, cruzando nossas histórias, encontrando pontos de contato e ressignificação. Oferecendo meu olhar pra que elas se vejam com mais generosidade e aprendendo também a ser mais gentil comigo mesma. É isso que busco, hoje, na minha fotografia: acessar a verdade de cada pessoa que eu fotografo, que elas se reconheçam nas imagens. E mergulhar cada vez mais em mim.
